Vamos ser directos e honestos.
A União Europeia não estava preparada para uma crise. Nunca ninguém propôs ou decidiu antecipadamente mecanismos para responder a uma crise desta natureza. E reagiram tarde a esta situação. E enquanto não reagiam, prejudicavam todos os cidadãos europeus, especialmente gregos, irlandeses, portugueses e espanhóis, os mais visados pela especulação, porque a verdade é que, como as normas europeias estavam até à pouco tempo, o Banco Central Europeu (BCE) emprestava dinheiro a juros baixos àqueles que depois iam emprestar aos países a juros elevadíssimos e nem autorização tinha para comprar divida pública. Isto é, o BCE era mais um entrave e não a solução. Felizmente isso foi alterado. Mas tarde.
Quem criou a Moeda Única (EURO), não teve em conta os violentos ataques que esta iria sofrer e, face à crescente valorização da mesma sobre o dólar americano, criou-se a ideia de que a união monetária era fortissíma e inabalável. Esta crise vem demonstrar que essa ideia estava assente em, metaforicamente falando, “pauzinhos de esparguete”, que quebraram logo no primeiro “abanão” com a Grécia e depois com a Irlanda, e já Portugal estava a sofrer a mesma pressão da especulação e as instituições europeias não se tinham organizado, de forma objectiva, efectiva e forte, para defender o EURO.
A nível nacional as coisas não foram melhor tratadas. O Governo contou só meia verdade aos portugueses. O Governo não contou que qualquer plano, fosse qual fosse o partido a aprova-lo, podia não ser suficiente pois o mercado e a especulação não são constantes, muito menos estáveis. E pressionam qualquer Estado de várias formas. E com mais pressão, mais medidas.
Mas desiludam-se aqueles que dizem que com o PSD seria diferente. Para isso basta pensarem que, numa Europa a 27, 24 países são governados por países de direita, maioria da Partido Popular Europeu (PPE), o partido do qual faz parte o PSD. E, se bem se lembram, foi a Europa – que, reforço, maioritariamente da mesma família política do PSD e da Sra Merckel – que impôs severas medidas aos Estados Membros em geral, e particularmente aos países do EURO. E, mesmo assim, o PSD vetou o PEC que tinha sido exigido e aplaudido pela sua família politica europeia, para a seguir ir a Bruxelas dizer “nós vetamos, mas se formos Governo vamos aplica-lo”. Mais: o mesmo PSD dirigiu-se ao mercado dizendo que este PEC pecava por não ir mais longe. Mais longe foi entendido por todos os analistas como mais austero, mais penalizador para os portugueses e mais vantajoso para os mercados, a quem essa comunicação se dirigia. A adicionar a isso, ainda hoje Miguel Relvas disse que “o Governo não faz mais que a sua obrigação (…), não há acordo nenhum (…) o Governo tem de assumir as suas responsabilidades”. Ou seja, não há interesse no representante em Portugal do PPE de assumir o consenso e os compromissos que o PPE pediu ao país.
Uma nota pessoal: Miguel Relvas disse “ninguém dá nada a ninguém, Portugal vai ter de pagar todos os empréstimos, esse tempo [dos subsídios] já lá vai”. Curiosamente era o PSD que estava no Governo, Cavaco Silva era primeiro ministro durante quase todo esse tempo, e é quase unânime (os sociais democratas com certeza defenderão a honra do país) que foram pessimamente aplicados.
CDS, PCP, PEV e BE numa coisa têm razão: não é com mais austeridade que melhoramos a economia. É tão simples como 1+1 serem 2, matematicamente falando. Se o Estado aumenta os impostos, famílias e empresas ficam com menos. Tendo menos, vão consumir menos e as empresas, consequentemente, vão facturar menos e passar também dificuldades. Ao passarem por dificuldades, não vão ter forma de manter funcionários, muitas vão ter de fechar, o que vai acarretar mais desemprego e mais despesa para o Estado com subsídios de desemprego entre outras medidas sociais. Veja-se, por exemplo, a opinião do Nobel da Economia que afirmou que neste momento é necessário resolver primeiro os problemas das pessoas – isto é, aumentar o défice para ajudar quem precisa -, para depois então preocupar-se com o défice. A este respeito, sugiro também a leitura do “Manifesto dos Economistas Aterrorizados“, escrito por um conjunto de economistas franceses, que desmistifica algumas das mentiras que os vários Governos Europeus proclamam aos cidadãos.
Mas CDS, PCP, PEV e BE acenam aos portugueses com, na sua maioria, medidas populistas e demagógicas. Sabem bem os membros destes partidos que maioria das medidas que anunciam não são exequíveis, não se podem executar no país, muito menos neste momento de crise.
Não sou particular fã de Rui Rio, mas revejo-me nas declarações do mesmo quando, há cerca de dois anos, por altura das eleições legislativas, disse que este sistema estava desacreditado e descredibilizado junto dos portugueses. Isto é, que os portugueses não acreditam nos partidos e nos políticos, de um modo geral. E, reforçou, seria necessário termos a coragem e a determinação para mudar os sistema. Não me interpretem mal. Não defendo uma ditadura para Portugal. Mas acho, à semelhança de Rui Rio, que algo tem que mudar drasticamente para que os portugueses passem a acreditar nos políticos. E, para mim, tem de começar por uma renovação. Desde pequeno que me lembro das mesmas pessoas na política. Sempre as mesmas pessoas, sempre as mesmas caras, em várias crises. As pessoas estão fartas. Até Pedro Passos Coelho, que, como ele diz, nunca foi do Governo, já está à muitos anos na politica. Foi presidente da Juventude Social Democrata (JSD) quando Cavaco era primeiro ministro e presidente do PSD e, segundo conta a comunicação social, a relação nunca foi muito pacífica. Cavaco nunca foi “grande amigo” de Pedro Passos Coelho.
Com isto quero terminar esta minha opinião dizendo que dia 5 de Junho devemos todos ir votar. Todos. Não sou partidário do voto em branco. Mas se tiver que ser – face até ao que acima escrevi – que seja. Mais vale votar em branco do que não ir votar. Temos de mostrar aos políticos que os Portugueses estão revoltados mas interessados em que o nosso país melhore, que se ultrapasse esta crise e que Portugal não morra, antes vença e ultrapasse esta crise. E isso faz-se votando. E, já agora, uma nota a quem gosta de fazer desenhos nos boletins de voto: os votos nulos (que é no que resulta esses “desenhos”) vale “zero”. Institucionalmente um voto nulo nem é considerado, pois trata-se de um desrespeito por um dever cívico. Apelo a todos aqueles que, se não sabem em quem votar, lhes der uma enorme vontade de usar os seus dotes artísticos, entreguem o boletim em branco e usem os seus dotes artísticos cá fora. Uma larga quantidade de votos em branco obriga os partidos a reflectir, pois constituem um grupo de eleitores que não acredita em nenhum dos projectos propostos. Uma série de votos nulos dá a ideia que não levamos a sério os momentos eleitorais. Se nós queremos que os partidos nos levem a sério e se empenhem em nos representar devidamente, devemos dar o exemplo.