A Henrique Raposo

Sou orgulhosamente algarvio, nascido em Lagos. Mas os estudos e o trabalho levaram-me uma cidade a mais de 400 km da minha cidade natal, pelo que me tornei visitante no meu próprio Algarve. E não me revejo no Algarve que o Sr Henrique Raposo retrata na sua crónica. Sou sempre bem recebido.
O mais gritante da crónica de Henrique Cardoso é que retrata a população de toda uma região (congratulo-o por conhecer toda a região e toda a sua população, pois eu sou algarvio e nunca consegui) em alguns exemplos que certamente terá encontrado nas férias, nos tais cerca de 20 anos que, segundo diz, o levam até ao Algarve. É o perigo de generalizar, Sr. Henrique Raposo. Pior: é o perigo de generalizar num jornal nacional, com a tiragem do Expresso, e de atingir uma população de uma região que está preparada e treinada, todos os anos, para receber todos os visitantes, não fosse o turismo uma das principais fontes de rendimento desta gente. E uma grande fonte de riqueza deste país.
Vou dar-lhe um exemplo (que nada tem a ver com o Sr. Henrique Raposo ou com a sua cidade natal, que desconheço): eu não gosto de Lisboa. Circunstâncias da vida e episódios nas minhas visitas à capital levam-me a, até agora, não nutrir especial carinho pela cidade. No entanto, eu não digo que não gosto de todos os lisboetas, sejam eles típicos “alfacinhas” ou “novos lisboetas”, por terem vindo de outros lados. Porque não os conheço todos, porque não conheço a cidade toda, porque eles não têm culpa que as experiências que tive nas minhas visitas à cidade não tenham sido, até agora, as melhores.
A população algarvia depende, em grande parte, do turismo, dos seus visitantes. São pessoas que vão até à exaustão nos meses da chamada época alta, para proporcionar a melhor experiência a quem os visita. Se também têm maus momentos? Claro que sim, todos temos. Mas isso não caracteriza uma região inteira. Basta ver os louvores ao Algarve e aos algarvios, de todas as nacionalidades, que suplantam largamente as queixas.
Eu, normalmente, quando não me agrada um sitio, seja uma localidade, uma unidade hoteleira ou estabelecimento comercial, não faço grande questão de lá voltar. No entanto, o Sr. Henrique Raposo diz que já o faz à 20 anos. E, se o continuar a fazer, vai ter de lidar com a guerra desnecessária que iniciou com os algarvios com o seu artigo de opinião. Se existe liberdade de opinião? Claro que existe, dentro dos termos da Lei, pode escrever o que lhe apetecer. Mas depois tem também de lidar com as consequências do que escreve. E se se der ao trabalho de ler as reacções ao seu artigo, há uma nova relação amor-ódio que nasceu: a dos algarvios para consigo, Sr. Henrique Raposo.